Aqui fica um artigo bastante interessante com apresentação da autora para a linha podiátrica/podológica do canal sapo saúde. Espero que seja do interesse de todos os podologistas e leitores da linha.
O meu nome é Catarina e tenho 33 anos. Sou apaixonada por sapatos e desde cedo que senti a necessidade de desenhar os meus. Desta paixão resultou um curso, Design de Calçado e Marroquinaria. Infelizmente em Portugal ainda não existe uma licenciatura de Design de Calçado, então optei por tirar o curso de Design Industrial e posteriormente o mestrado em Design do Produto no IPCA. No mestrado tive a oportunidade de me debruçar sobre a minha área de eleição e em 2010 comecei um projeto que culminou na minha dissertação ” A Melhoria do Design de Calçado numa Perspetiva Inclusiva”. Desde então este tem sido o meu foco de trabalho, o projeto foi até à penúltima fase do concurso da Acredita Portugal, já esteve inserido no programa Passaporte para o Empreendedorismo e no programa Acelera+.
Em 2006, quando tirei o curso de Design de Calçado apercebi-me que nem todas as pessoas têm oportunidade de escolher os sapatos de que gostam, e que por outro lado, outros têm uma infinidade de escolha mesmo à mão. O porquê disto acontecer é que não me convenceu até hoje, como tal resolvi levar este estudo mais além e em 2010 comecei a desenvolve-lo na minha dissertação. A investigação da dissertação para além de estar sustentada por questionários e entrevistas a um público feminino com patologias ao nível do pé, contou com a colaboração de Podologistas e Ortopedistas.
Autora: Catarina Ravara Mendes
Designer do produto, Especializada em Design de Calçado e Docente no curso de Design de Calçado ministrado pelo IPCA[1] Dissertação “ Mellhoria do Design de Calçado Numa Perpetiva Inclusiva “.
Os benefícios da parte estética no calçado especializado.
De acordo com a Society of Chiropodists & Podiatrists cerca de 80% da população adulta tem algum tipo de patologia no pé.
No entanto, existem pessoas que ainda não detectaram este problema, ou porque ainda não sentem dores, ou porque até já se habituaram a ter dores ao nível do pé e não procuram auxílio médico. Num centro de fisioterapia referiram, que os pacientes não estão informados, pois ainda existe falta de informação acerca do calçado a utilizar, estes também desconhecem a existência de dispositivos clínicos simples que existem para minimizar as dores de patologias como esporão de calcâneo ou de um pé cavo.
Além desta realidade existe ainda outra lacuna no calçado, pois a ergonomia e a estética ainda não se completam ao ponto de satisfazer as necessidades dos utilizadores. O calçado deve ser fisiologicamente adequado de forma a não ser prejudicial à saúde do pé, para isso é necessário que seja leve, flexível, tenha frentes amplas, caixa ampla, seja antiderrapante e respirável.
De acordo com o estudo elaborado na dissertação [1] a parte estética do calçado especializado ainda é apontada como o principal fator do descontentamento das utilizadoras, principalmente do sexo feminino. Algumas mulheres a recusam-se a utilizar este tipo de calçado pela sua estética e outras porque desprezam a sua conotação “ortopédica”. Em consequência desta decisão agravam as suas patologias e se não podem mesmo passar sem eles e os utilizam, sentem-se diminuídas socialmente, uma vez que a sua opção de escolha é denunciadora do problema.
O calçado tem um grande significado e simbolismo associado e desde os tempos remotos, que se verifica que têm uma forte influência na sociedade, história e cultura, estes são indicadores de tribos urbanas, exercem um grande poder, pois transmitem personalidade, ideais, desejos e uma atitude.
Este produto faz parte do estilo, da construção de uma identidade, as pessoas gostam de ter calçado que transmita a sua maneira de ser ou de estar, que transmita os seus gostos. No entanto quem utiliza ou deveria utilizar o calçado especializado ainda não têm completo acesso aos benefícios que a parte estética pode trazer.
A estética sempre teve um papel fundamental na aparência dos produtos, pois a primeira impressão e o simbolismo a eles associado provocam uma emoção, o que o faz querer adquirir um produto mais facilmente. A estética não é uma futilidade, é um fator importante, uma vez que o utilizador procura a sua imagem num produto que tem um forte simbolismo social, por isso tem a função de elo, que aproxima pessoas que partilham os mesmos gostos ou estilos.
Se o produto em causa for um sapato, o grau de importância da estética é ainda maior, pois os sapatos representam a construção de um estilo pessoal, estes intensificam uma identidade que se quer transmitir.
São tantas as imagens e as tendências de sapatos de salto alto e sapatos “elegantes”, com frentes estreitas associadas a imagens sensuais, que inevitavelmente levam as pessoas a querer adquirir este produto, o que prejudica a sua saúde física e a autoestima daquelas que não podem utilizar este tipo de calçado.
É realmente importante que todos tenham o mesmo acesso às tendências de moda, e neste momento quem tem problemas ao nível do pé ainda não o tem. Apesar de já existirem vários esforços, estudos e projetos nesse sentido, ainda há um longo caminho a percorrer. A moda tem um forte valor na sociedade e se os seus padrões forem numa direção saudável e universal poderemos abranger de forma inclusiva todos os cidadãos.